Como vivenciar o tempo litúrgico?
A mais antiga tradição litúrgica em se tratando de tempo para celebrar fala do 'domingo' (dia do Senhor, dia da ressurreição de Jesus) como dia da reunião dos discípulos e discípulas de Jesus para celebrar sua memória.
As outras festas e tempos, formando o ano litúrgico (ciclo natalino, ciclo pascal, tempo comum) foram organizados pouco a pouco. Ao longo do ano, nos oferecem textos bíblicos, salmos e outros cantos, orações, prefácios... que nos ajudam a aprofundar e assimilar o que Cristo significa para nós. Cada tempo ou festa litúrgica tem sua espiritualidade específica e realiza em nós com sua força sacramental uma característica de Jesus, um de seus 'mistérios':
No advento, a alegre e confiante expectativa da vinda do Reino;
No Natal, a proximidade do Deus-Conosco, que se manifestou fazendo-se um de nós;
Na quaresma, a conversão pascal;
No tríduo pascal e no tempo pascal, a fé e a certeza da vitória que vem do amor incondicional de Deus, revelado na cruz de Cristo;
No tempo comum, com um ciclo de três anos do lecionário dominical, o seguimento de Jesus, passo a passo, em sua caminhada missionária;
Nas festas dedicadas a Maria, aos mártires e outros santos, a fidelidade, o testemunho, a santidade, a vivência das bem-aventuranças.
Assim, dia a dia, semana após semana, ano após ano, vamos sendo 'moldados', transformados, pela celebração dos mistérios de Cristo.
Todo ano comemoram-se duas grandes festas: Páscoa e Natal. A Páscoa é mais importante que o Natal. É a maior festa cristã, porque celebra a ressurreição de Jesus. Ambas as festas são precedidas por um tempo de preparação.
O ADVENTO é o tempo de espera e de vigilância, apontando pistas dos sinais do Reino, é o tempo de preparar para acolher a presença de um Deus que vem ao nosso encontro. As antigas comunidades cristãs, quando começaram a celebrar o Natal, o fizeram, ao mesmo tempo, como o desdobramento da alegria pascal e como celebração do início do mistério da salvação. E assim como a festa da páscoa era preparada por um tempo de jejum e escuta da Palavra, colocaram também um tempo de preparação antes da festa do Natal. A Palavra Advento, como tantos outros termos importantes do cristianismo, foi tirada do vocabulário pagão, e significa chegada ou vinda. Ao longo do tempo, foi assumindo o sentido tanto do nascimento do Senhor (o Senhor veio!), quanto da preparação para este evento (o Senhor vem!) e também da espera da segunda vinda de Cristo (o Senhor virá!).
A liturgia ocidental, nas duas primeiras semanas do Advento, acentua a espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos, enquanto nas outras duas semanas coloca a ênfase na preparação para a solenidade do Natal.
Celebrar o período do NATAL é sentir de fato a presença do eterno "hoje" salvador, como obra da Trindade! Presença com sabor de Páscoa, pois é a partir da Páscoa que podemos viver o Natal como festa da luz, da vida, de paz!
Especificamente o dia de natal celebra o Cristo que nasce em Belém da Judéia, em noite fria (inverno), mas traz do céu o calor vitalizante da santidade de Deus, em mensagem de paz dirigida, sobretudo aos pobres, com quem se identifica mais plenamente, cumulando-os das riquezas do Reino. Sua "noite feliz" sinaliza para a "noite fulgurante" da Sagrada Vigília Pascal do Sábado Santo, onde as trevas são dissipadas, definitivamente, pela luz do Cristo Ressuscitado. O seu nascer nos faz olhar o adiante do renascer das trevas tornando-se novamente luz resplandecente.
O tempo do natal de prolonga nas solenidades da Sagrada Família, Santa Maria Mãe de Deus, Epifania do Senhor e Batismo do Senhor.
Segue o ciclo do TEMPO COMUM.
Começa esse tempo litúrgico na segunda-feira após a Festa do Batismo do Senhor, ou na terça-feira, quando a Epifania é celebrada no dia 7 ou 8 de janeiro, hipótese em que o Batismo do Senhor é celebrado então na segunda-feira. Na terça-feira de Carnaval, o Tempo Comum se interrompe, reiniciando-se na segunda-feira depois do Domingo de Pentecostes e prolongando-se até o sábado que precede o primeiro Domingo do Advento.
O TEMPO COMUM ocupa a maior parte dos nossos dias. São 33 ou 34 semanas, distribuídas entre os dois tempos especiais do ano litúrgico: o natal e a páscoa. Ocupa praticamente a metade do ano, com algumas semanas entre o natal e a quaresma e a parte mais longa depois de pentecostes até a festa de Cristo Rei, que marca o fim do ano litúrgico.
O Tempo comum pode ser vivenciado ainda nos três anos litúrgicos: A, B e C. Vejamos:
No ano A, ouvimos atentamente o Evangelho segundo Mateus. O Cristo, qual novo Moisés, nos leva, em comunidade, como Igreja, a nos despojar de nosso tradicionalismo para nos abrir ao novo que Deus vai revelando no hoje da história; não são nossas práticas que nos salvam, mas a fé, a adesão a Cristo, a partir de nossa pequenez, a partir de nossa pobreza.
No ano B, Marcos é nosso guia. Coloca-nos frente a frente com Jesus Cristo que é Messias que vem instaurar o reino de Deus, porém não de maneira clara, explícita; nem vem de forma triunfante, mas como servo sofredor, perseguido, executado na cruz.
No ano C, é Lucas quem nos conduz; ele insiste no seguimento radical de Jesus, ensina-nos a orar, a amar, a perdoar, a nos deixar guiar pelo Espírito, a levar em conta as mulheres, a colocar no centro de nossa vida o acolhimento e a preocupação com os pobres... Toda esta lenta e progressiva caminhada do tempo comum vem de encontro a uma clara característica de nossa vida: somos chamados a descobrir nosso caminho, passo a passo; somos chamados a crescer no amor, a amadurecer, aprendendo muitas vezes, a duras penas, através do sofrimento e do acúmulo de experiências.
O tempo QUARESMAL é apresentado como a preparação para a páscoa, recordação e preparação para os sacramentos da iniciação cristã e período de prática da penitência. Porém a referência à escuta mais freqüente da Palavra de Deus, a oração mais intensa, a catequese.
Na quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas e termina na quinta-feira da Semana Santa, realiza-se a preparação para a Páscoa. O período é reservado para a reflexão e a conversão espiritual. Ou seja, a humanidade deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Os fiéis são convidados a fazerem uma comparação entre sua vida e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Esta comparação significa um recomeço, um renascimento para as questões espirituais e de crescimento pessoal. O cristão deve intensificar a prática dos princípios essenciais de sua fé com o objetivo de ser uma pessoa melhor e proporcionar o bem para os demais.
Quanto ao tríduo pascal, que vai da tarde da quinta-feira santa à tarde do domingo da ressurreição, constitui a celebração “da morte, da sepultura e da ressurreição” do Senhor.
Na origem, a sexta e o sábado foram caracterizados pelo jejum, o domingo pela alegria, sem que houvesse qualquer celebração, a não ser a vigília. O tríduo pascal constitui uma realidade essencial e pressuposta para que a noite pascal se revista plenamente do seu sentido: com efeito, ela é a passagem do jejum à festa, como foi, para o Cristo, a passagem da morte para a vida.
Pelo jejum, participa-se da paixão e da morte de Cristo; pela alegria, se participa da ressurreição.
A quinta feira santa é marcada pelas instituições: da eucaristia, do serviço, do sacerdócio; a sexta e o sábado pelo jejum.
As solenidades no ano litúrgico são:
• Santíssima Trindade. Celebra-se no domingo seguinte ao de Pentecostes.
• Sagrado Corpo e Sangue do Senhor. Celebra-se na quinta-feira após a solenidade da Santíssima Trindade.
• Sagrado Coração de Jesus. Sua celebração se dá na 2ª sexta-feira após "Corpus Christi".
• Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. É celebrada no último domingo do Tempo Comum, ocupando o lugar do 34º domingo.
• Também no Tempo Comum são celebradas algumas festas do Senhor. Estas, quando caem no domingo, ocupam o seu lugar. São elas:
• Apresentação do Senhor. Celebra-se no dia 2 de fevereiro.
• Transfiguração do Senhor. Sua celebração é em 6 de agosto.
• Exaltação da Santa Cruz. Celebra-se em 14 de setembro.
• Solenidades dogmáticas:
1. Santíssima Trindade (primeiro domingo depois de pentecostes);
2. Corpus Christi (quinta-feira depois da Trindade);
3. Sagrado Coração de Jesus (2º domingo depois de Pentecostes);
4. Cristo Rei (último domingo do tempo comum).
Além das "festas do Senhor" acima referidas, outras festas e solenidades são celebradas no Tempo Comum, pertencentes então ao "Santoral".
Vejamos uma tabela com os esquemas temáticos dos tempos privilegiados :
ADVENTO:
I DOMINGO | O anuncio “o senhor vem” |
II DOMINGO | Ministério de João “preparai-vos” |
III DOMINGO | Ministério de João “alegrai-vos o senhor esta perto” |
IV DOMINGO | O mistério da encarnação |
As primeiras leituras e segundas leituras inserem neste quadro.
TEMPO DO NATAL
NATAL |
SAGRADA FAMILIA |
OITAVA DO NATAL 1 º JANEIRO |
II DOMINGO DEPOIS DO NATAL |
EPIFANIA DO SENHOR |
BATISMO DO SENHOR |
O TEMPO QUARESMAL – ligação entre os temas batismo e penitência
Temática do Evangelho:
| A | B | C |
I DOMINGO | JEJUM E TENTAÇÃO | JEJUM E TENTAÇÃO | JEJUM E TENTAÇÃO |
II DOMINGO | TRANSFIGURAÇÃO | TRANSFIGURAÇÃO | TRANSFIGURAÇÃO |
III DOMINGO | AGUA VIVA | ANUNCIO DA PAIXÃO | APELO A CONVERSÃO |
IV DOMINGO | LUZ - CEGO | ANUNCIO DA SALVAÇÃO | O PAI MISERCORDIOSO |
V DOMINGO | VIDA - LAZARO | VALOR DA MORTE | APELO: PERDÃO |
Temática das leituras:
I DOMINGO | As origens da historia da salvação |
II DOMINGO | Abraão |
III DOMINGO | Moises |
IV DOMINGO | O povo da antiga aliança na terra prometida |
V DOMINGO | Os profetas anunciam a nova aliança |
Como a liturgia é ação simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital importância, respeitada a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:
• Cor roxa
Usa-se: No Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.
• Cor branca
Usa-se: Na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos santos. Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.
• Cor vermelha
Usa-se: No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo de Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e evangelistas.
• Cor rosa
Pode-se usar: No terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no quarto Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos são classificados, na liturgia, de "domingos da alegria", por causa do tom jubiloso de seus textos.
• Cor preta
Pode-se usar na celebração de Finados
• Cor verde
Usa-se: Em todo o Tempo Comum, exceto nas festas do Senhor nele celebradas, quando a cor litúrgica é o branco.
Nota explicativa: Se uma festa ou solenidade tomar o lugar da celebração do tempo litúrgico, usa-se então a cor litúrgica da festa ou solenidade. Exemplo: em 8 de dezembro, celebra-se a Solenidade da Imaculada Conceição. Neste caso, a cor litúrgica é então o branco, e não o roxo do Advento. Este mesmo critério é aplicável para a celebração dos dias de semana.
Tempo pascal
| Primeira leitura | Segunda leitura | evangelho |
Domingo da páscoa Ressuscitou. | A B C = Comemos e bebemos com ele depois que ele ressuscitou dos mortos | A B C = Esforçai-vos para alcançar as coisas do alto, onde esta Cristo | A B C = Ele devia ressuscitar dos mortos. |
2º domingo da páscoa Aparições | A /todos que abraçavam fé viviam unidos B / um só coração e uma são alma C / multidões cada vez maiores aderiam ao senhor pela fé | A / pela ressurreição, ele nos fez nascer de novo B/ Todo aquele que nasceu de Deus , vence o mundo. C/ estive morto mas agora estou vivo para sempre | A B C = oito dias depois Jesus entrou. |
3º domingo da páscoa Aparições | A / não era possível que a morte o dominasse B/ vos matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou. C/ disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo | A / fostes resgatados pelo precioso sangue de Jesus B/ ele é a vitima da expiação pelos nossos pecados C/ o cordeiro imolado é digno de receber o poder. | A / reconheceram-no no partir do pão B assim esta escrito. O messias sofreara e ressuscitará C/ Jesus aproximou-se, tomou-o pão e distribuiu–os a eles |
4º domingo da páscoa O bom pastor | A / Deus constituiu-se Senhor e cristo B em nenhum outro há a salvação C/ eis que nos voltamos para os pagãos | A/ voltarei aos pastores de vossas vidas B/ veremos a deus tal como ele é C/ o cordeiro vai apascentar e os conduzirá as fontes... | A/ eu sou a porta das ovelhas B/o bom pastor é que da vida por suas ovelhas C/ eu vos dou um novo mandamento |
5º domingo da páscoa Discurso da ceia ( testamento) | A / escolheram sete homens repletos do Espírito. B/ contou-lhes como tinha visto o Senhor no caminho C/ contaram tudo o que deus fizera no meio deles | A / vos sois a raça escolhida o sacerdócio do reino B/ este é o meu mandamento: que creamos e amemos... C/ deus enxugara todos as lagrimas dos seus olhos | A / eu sou o caminho a verdade e a vida B / quem permanece em mim e u nele produz muitos frutos C/ eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros |
6º domingo da páscoa | A / impuseram-lhes as mãos e eles receberam o espírito B/ o dom do espírito santo sobre os pagãos C/ decidimos , o espírito santo e nós , não vos impor | A / Sofreu a morte na sua existência humana , mas recebeu nova vida B/ Deus é amor C/ Mostrou-me a cidade santa descendo do Céu. | A / eu rogarei ao Pai e ele Dara outro defensor B / Ninguém tem maior amor do que aquele que da a vida C/ O Espírito Santo vos recordara tudo o que eu ... |
Ascensão | A B C = Jesus foi levado ao céu a vista deles | A/ e o fez sentar-se a sua direita no céus. B/ a estatura de Cristo em sua plenitude C / Cristo entrou no próprio céu. | A/ toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra B/ Foi levado ao céu e sentou-se a direita de deus C/ enquanto os abençoava... Foi levado para o céu |
7 º domingo da páscoa | A / dedicavam-se a oração em comum B/ é preciso que um deles se junte a nos para testemunhar C/ Estou vendo o filho do homem, a direita de Deus | A/ se sofreis... por causa do nome de Cristo , sois felizes B/Quem permanece no amor, permanece em Deus C/ Cristo entrou no próprio céu | A / pai glorifica teu nome B/ para que eles sejam um, assim como nos somos um C/ para que eles cheguem a unidade perfeita |
Pentecostes | A B C =todos ficaram cheios do Espírito santo e começaram falar ... | A B C = fomos batizados num só espírito para formarmos um só corpo | A B C = Como o pai me enviou, assim também eu vos envio: recebam o espírito de Deus |
No Brasil e em outros países a celebração da ascensão foi transferida , do dia próprio que é quinta da sexta semana , para o domingo seguinte , As leituras assim omitidas do 7 domingo podem ser lidas no sexto domingo.
“A celebração do Ano Litúrgico é uma forma de a gente lembrar, ao longo da caminhada, a presença dinâmica de Deus em meio a seu povo. E, lembrando, unimo-nos e nos comprometemos com ele. Celebrando a Páscoa de Jesus, fazemos hoje, nele, a nossa Páscoa. Celebrando o Natal de Jesus, fazemos hoje, nele, o nosso Natal. Celebrando o Advento... de Jesus, ele se manifesta a nós e nos faz caminhar mais depressa em direção ao Reino. Foi por isso que o papa Paulo VI disse que a celebração do Ano Litúrgico não é só recordação de um fato passado, mas ‘goza de de força sacramental e especial eficácia para alimentar a vida cristã’”.
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