domingo, 18 de setembro de 2011

Ministério de Proclamação da Palavra


1- A importância da Palavra de Deus na Liturgia  
 Não devemos nos esquecer que é Deus mesmo quem nos fala através dos textos da Sagrada Escritura, proclamados na Liturgia da Palavra de uma Celebração Litúrgica. Seja por meio de um Profeta do AT ou de um Apóstolo do NT ou de seu próprio Filho, Jesus Cristo, Palavra de Vida, no Evangelho.  
 2- O lugar próprio do Anúncio da Palavra na Liturgia  
 O lugar próprio para se colocar o Livro da Palavra (Lecionário ou Bíblia) e proclamar a Palavra de Deus é a Mesa da Palavra ou Ambão. Deve ser um lugar tão importante quanto a Mesa da Eucaristia ou Altar, pois, da mesma maneira que o Altar é a mesa onde é partilhado o Pão da Eucaristia, o Ambão é a mesa onde é partilhado o Pão da Palavra.  
 3- Leitores e Leitoras  
 Não há celebração litúrgica sem uma leitura da Palavra de Deus. Numa reunião mais informal (círculo bíblico, novena de natal, campanha da fraternidade em família...), qualquer participante que saiba ler e consiga fazer a leitura de forma compreensível poderá fazê-la. Mas, numa liturgia dominical ou festiva coordenada por uma equipe, as leituras são preparadas com antecedência. Portanto, quem vai fazer a leitura deverá sabê-lo com antecedência. Geralmente, há uma equipe de leitores e leitoras que se revezam, em rodízio. Para se poder exercer bem este serviço, é importante que seja oferecida a estes leitores uma formação bíblica, litúrgica, espiritual e prática.  
4- Um verdadeiro ministério litúrgico  
 Os leitores e leitoras não são meros “ajudantes do padre”, mas exercem um ministério próprio, a partir do seu sacerdócio de batizados. Trabalham como verdadeiros representantes de Cristo, animados pelo seu Espírito. Não estão aí para aparecer, mas realizam nada mais do que um serviço comunitário, eclesial.  
 5- Fazer a leitura? Ou proclamar a Palavra?  
 Fazer a leitura significa apenas ir lá na frente, ler o que está escrito, para informação minha e da comunidade, ou, o que acontece na maioria das vezes, por pura formalidade (uma tragédia!).  
Proclamar a Palavra é um gesto sacramental. Coloco-me a serviço de Jesus Cristo para que, através da minha leitura, da minha voz, da minha comunicação, Ele possa falar pessoalmente ao seu povo reunido. O documento do Concílio Vaticano II sobre a liturgia (Sacrosanctum Concilium) diz, no seu número 7: “Presente está pela Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja”, ou seja, na comunidade reunida. Jesus Cristo fala à assembléia litúrgica, pela mediação do leitor ou da leitora, que podem ser chamados verdadeiros ministros da Palavra.  
O anúncio da Palavra do Senhor não é uma simples leitura. Não devemos, portanto, indicar qualquer pessoa para “fazer leitura”, de improviso, na última hora. O Proclamador da Palavra deve: ter um mínimo de preparo para a leitura em público; pronunciar as palavras com clareza, sem pressa e corretamente; ter consciência de que a Palavra deve ser proclamada e não só lida; procurar exprimir não somente as idéias, mas também os sentimentos contidos no texto que está proclamando; saber usar corretamente o microfone; acreditar naquilo que está anunciando; e saber que o próprio Deus está querendo se comunicar com o seu povo através dele.  

6- Uma doença a ser curada: o formalismo  
 Em nossas comunidades, a liturgia precisa ser curada urgentemente de uma doença muito séria: o formalismo, ou seja, fazer as coisas simplesmente por mera rotina. Precisamos descobrir a liturgia como um diálogo vivo e atual de Jesus com seu povo e de nós com Ele. Mas isso só se torna possível se levarmos a sério a presença atuante e dinâmica do Senhor e do seu Espírito em cada liturgia da Palavra que realizamos.  
 7- Como são escolhidas as leituras para a celebração?  
 A Igreja nos oferece um conjunto de leituras para as celebrações dominicais e semanais, contido nos lecionários, que possibilita à comunidade, ao longo de três anos, tomar contato com as partes mais importantes das Sagradas Escrituras, dentro da pedagogia e da espiritualidade própria dos tempos litúrgicos. Cada ano vem caracterizado pela proclamação de um dos evangelhos chamados sinóticos: Ano A, Mateus; Ano B, Marcos; Ano C, Lucas. O Evangelho segundo João ocupa as festas e tempos fortes do ano litúrgico (Advento, Natal, Quaresma, Páscoa) e ainda João 6 completa o evangelho segundo Marcos, no Ano B.  
Para os domingos, é a partir dos evangelhos que são escolhidas as primeiras leituras. O salmo é uma resposta à primeira leitura e a aclamação ao evangelho geralmente é tirada do evangelho do dia. A segunda leitura é uma leitura semi-contínua das cartas do Novo Testamento, em seus trechos mais importantes, sem preocupação de ligação com as outras leituras.  
Para os dias da semana, há uma lista de leituras bíblicas para dois anos: pares e ímpares. O evangelho é sempre o mesmo a cada ano; só mudam a primeira leitura e o salmo.  
 8- Como preparar uma leitura?  
 a) Preparação com a equipe de liturgia: confronto da Palavra com a realidade da comunidade.  
b) Preparação pessoal: o leitor precisa entender e crer na Palavra que está proclamando. É preciso primeiro conhecer o texto em si (circunstâncias em que foi escrito, para quem se dirige), sua relação com o conjunto da revelação e do mistério de Cristo (fundamentalismo) e qual o sentido do texto para nós, hoje.  
c) Conheça bem o texto: Faça a si mesmo as seguintes perguntas:  
- Qual o contexto do texto na Bíblia? Onde e quando foi escrito? Para quem foi escrito? Com que objetivo?  
- Quais são os personagens que aparecem  
- Em que ambiente está se passando?  
- Qual a mensagem ou idéia principal do texto?  
- Qual o gênero literário? (Carta? Poesia? Oração? Lei? Narrativa? Parábola? Exortação? Profecia?)  
- Há palavras difíceis no texto? Use o dicionário ou consulte alguém que possa ajudá-lo.  
- Quais as várias partes da leitura? (Introdução, conclusão, o fio condutor, o ponto alto...)  
d) Sintonize-se com o texto, coloque-se dentro dele. Pergunte-se: o que através desse texto Deus diz para mim? O que eu digo a Ele, após essa leitura? Que caminhos novos se abrem para mim em minha vida?  
e) Treine a expressão do texto: grife a frase principal, marque as pausas; procure o tom de voz que mais combina com o gênero literário; dê ênfase às palavras mais importantes; cuide bem da respiração e da dicção, pronunciando bem cada palavra, cada sílaba; diga o texto algumas vezes em voz alta.  
f) Faça da preparação da leitura, antes de tudo, uma meditação e uma oração, tendo Maria como modelo (cf. Lc 2, 19.51). “Coma” a Palavra, como Ezequiel (cf. Ez 3,1-11) e João (Jo 10,10s).  
g) Que tal começar a preparar a leitura de sábado ou domingo no início da semana?  
 9- Como proclamar uma leitura?  
 Em primeiro lugar, não leia simplesmente, de maneira formal, mas proclame a Palavra. Empreste sua voz a Deus para que Ele comunique à comunidade a sua Palavra que liberta, dá vida, corrige e salva.  
Preocupe-se não com o passado, mas com o presente e o futuro. Como esta leitura vai se realizar hoje, no contexto atual? Veja como Jesus proclamou a Palavra numa celebração em Nazaré, em Lc 4, 16-22.  
Lembre-se de que é Deus quem fala. O leitor é um ministro, um instrumento, porta-voz do Senhor.  
Para cada gênero literário, há um tom de voz e uma maneira diferente de se proclamar a Palavra.  
Exprimir os sentimentos do autor e dos personagens apresentados.  
No momento de proclamar a leitura, dirija-se à estante (ao ambão) com tranqüilidade. Esteja sóbria e decentemente vestido. Coloque-se em pé, com a cabeça erguida, as costas retas para poder respirar melhor. As mãos na estante com o Livro. Não cruze as pernas, não se apóie numa perna só nem fique com as mãos no bolso ou com os braços cruzados. Se houver microfone, confira se ele está ligado e mantenha-o na altura certa (logo abaixo do queixo). Olhe para a assembléia, “reúna”, “chame” o povo com o olhar. Jogue como que uma “ponte” até as últimas fileiras; estabeleça contato. Tudo isso em silêncio. Não olhe com cara feia, mas deixe que o seu rosto exprima um pouco dos sentimentos de Jesus para com seu povo.  
Proclame a Palavra, de maneira calma e pausada, com dicção clara, e observando tudo o que foi dito acima. Não perca o contato com a assembléia. Vá acompanhando com o dedo indicador as palavras do texto.  
Ao terminar, aguarde a resposta da assembléia e, com calma, deixe a estante e volte ao seu lugar.  

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